novembro 06, 2006

OLIMPÍADAS PORTUGUESAS de MATEMÁTICA
4ª feira, dia 8 de Novembro, às 15.00horas
SALAS: 28 e 28A

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Depoimento gravado na ESE para uma sessão do ProfMat2006
A MESMA MATEMÁTICA PARA TODOS OS ALUNOS, OU MATEMÁTICAS DIFERENTES?
Quanto a pergunta foi colocada, surgiu-me uma questão prévia:
Fará sentido discutir este assunto, quando as práticas lectivas, na globalidade, permanecem imutáveis ano após ano?
Como resposta creio que se justifica como um exercício pertinente teórico/académico de reflexão.
Assim sendo…
1. A apropriação que cada docente de Matemática faz do programa, de acordo com a sua formação de base, as suas ideias e princípios etc, conduzem, na prática, a uma multiplicidade de abordagens, que, no limite, constituem outros tantos programas.
2. Por outro lado, a experiência diz-me que somos nós, professores que adaptamos e ajustamos o programa em função de nós próprios (e não em função dos alunos…), dando ênfase a uns temas, relativizando outros. Aponto como exemplo a Geometria sintética e a Geometria cartesiana. Assim, considero potencialmente irrelevante a mudança face à prática no terreno.
3. Vários programas implicariam opções. Os alunos, do ensino básico, ainda não possuem suficiente maturidade e ainda não tiveram um leque variado de experiências que lhes permita definir um caminho. A maioria dos pais não possui conhecimentos que auxiliem na escolha. Este modelo poderia potenciar o agravamento de clivagens sociais e gerar escolas para elites e escolas para os outros.
Defendo uma única Matemática para todos os alunos do ensino básico.
4. Há, no entanto, quem defenda a existência de Matemáticas em função das populações, ou seja em função do meio social no qual a escola se insere. Os defensores desta corrente de opinião, contrária ao modelo de ensino unificado, preconizam que sejam os alunos (devidamente orientados) a escolher as matérias que pretendem aprender...de acordo com uma intenção profissionalizante. Não concordo com esta perspectiva porque a considero predominantemente utilitária e porque acredito na importância da Matemática nos seus variados domínios ao nível da cidadania, da liberdade, da autonomia e da massa crítica.
Deixo em aberto outra questão:
Seria pertinente abdicar conceptualmente do Programa e adoptar Referenciais de Competências adaptáveis às diferentes comunidades?
Ao nível do secundário, creio que faz sentido a existência de uma diversidade de programas em função das opções e intenções de prosseguimentos de estudo ou saídas profissionais. Seriam Matemáticas para as profissões, organizadas de um modo não estritamente utilitário, mas preferencialmente dirigidas às necessidades específicas de cada conjunto de grandes áreas a definir.
Nesta perspectiva não incluo a actual Matemática B, a qual está impregnada de um conjunto de equívocos de natureza pedagógica e científica. Vejam-se alguns enunciados de provas de exame (num certo sentido são independentes do programa mas influenciam-no e condicionam-no!). Note-se, por exemplo, a abordagem da distribuição binomial sem falar no Cálculo Combinatório. Não vislumbro particular relevância nesta Matemática para artistas e tecnólogos. Uma abordagem mais exaustiva das Geometrias teria certamente mais importância e mais futuro para os alunos.
No actual estado das coisas mais programas é sinónimo de mais balbúrdia.

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