abril 15, 2004

Minas de S.Domingos


Quase desde o início da actividade
mineira que as lutas dos trabalhadores revelavam motivos que iam muito além das questões salariais. Uma das reivindicações mais significativas exigiu que a
Mason & Barry facultasse luz eléctrica nalguns serviços, invocando a
necessidade de leitura reclamada pelos trabalhadores. O arqueólogo Miguel Rego constatou que os funcionários que controlavam as linhas de caminho-de-ferro por onde passava o minério preferiam ler durante os intervalos da passagem das composições a jogar às cartas. Este desejo de aquisição de conhecimentos - chegaram a funcionar três bibliotecas em S. Domingos - resultou na edição de jornais, na criação de grupos de teatro, de uma escola de música e de grupos musicais de metais e cordas. Todas as crianças da mina iam à escola, que chegou a ter 15 professores. Tudo isto no período pós-República e até 1932, constatou Miguel Rego, que frisa que os mineiros "aliavam o espírito reivindicativo às necessidades da sua própria formação". Uma sólida base cultural permitiu que todos os quadros da mina, menos os engenheiros, desenhadores e pessoal de laboratório, fossem oriundos de S. Domingos. Com o encerramento da mina, o Alentejo perdeu o seu mais importante núcleo de operários especializados.


Público, 15 de Abril.


Como é que um aluno da geração dos toques polifónicos analisará esta notícia? Será que considerariam que o desejo de aquisição de conhecimentos só poderia ter natureza alienígena e que, por consequência, estes trabalhadores não passariam de espiões Etês no terceiro calhau a contar do Sol? É evidente, concorde-se, que tipos com necessidades de formação e com consciência dessa necessidade só podiam ser, no mínimo, esquisitos...caramba, com três bibliotecas o que é que se podia esperar?


(A) Extraterrestres
(B) Doentes com disfunção neurológica rara.
(C) Esquisitos.
(D) Agora não! Estou a receber um SMS!

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