maio 01, 2005

O JL Educação nº897 publicou um artigo de opinião de E. Lisboa globalmente infeliz e com algumas premissas não válidas actualmente.
O evidente saudosismo típico daqueles que julgam que no seu tempo é que era bom mostra o quão deslocado está deste tempo presente. O artigo não inclui uma única referencia à massificação do ensino que implicou uma realidade escolar significativamente diferente do ensino elitista de outros tempos. Hoje a escola é um espelho da sociedade, um microcosmos social, com as suas virtudes e fraquezas. Vigora o lixo televisivo e outros imaginários irreais e fúteis sem que exista o devido contraponto ao nível da massa crítica e da estética. Neste contexto não existem varinhas de condão que invertam a tendência, mesmo que sejam manipuladas por indivíduos da estirpe de Bento Caraça ou Sebastião e Silva.
Naturalmente as políticas educativas não podem estar sujeitas aos ciclos eleitorais e aos ventos que delas decorrem, nem deviam estar subjugadas a interesses de natureza economicista e os sindicatos deviam ser interventivos no domínio do coorporativismo. Neste quadro considero errada a tese de EA que responsabiliza exclusivamente os professores de Matemática pela suposta situação calamitosa. Considero, ainda, conceptualmente errada a noção que refere os antigos alunos liceais como “um bando de viciados: quando se acabava um livro de exercícios, ficávamos como o drogado a quem falta droga”. Independentemente da figura de estilo de muito mau gosto usada pelo autor, a frase remete-nos para o pior que subsiste teimosamente ao passar do tempo. Trata-se da visão quantitativa e de sentido único de uma Matemática ao quilo que, infelizmente, ainda se pratica numa percentagem acima do desejável. Daí a falar-se em dimensões apocalípticas é de um exagero inqualificável, tanto mais que a mediocridade não é um exclusivo dos professores de Matemática, está bem instalada e tem sido fomentada transversalmente em todos os sectores da sociedade, do topo até à base da pirâmide.